Suicidas ao seu redor!

Pitty - Álbum Setevidas  - 2014

Esse ano a banda Pitty lançou três músicas novas que estão inclusas no CD Setevidas e o CD já está disponível para compra. O álbum marca o retorno da banda com uma pegada de rock cru e um pouco psicodélico.

Mas não é sobre isso que venho falar neste poste. Na verdade, eu venho falar dos suicidas ao nosso redor. 

No entanto... O que Pitty tem a ver com o poste?

Simples! A música "Lado de lá" fala sobre suicídio. 

Escolheu deixar tudo aqui, fugir daqui

Pra onde nem sei

Mas espero que sim

Se arrancou, e partiu daqui, e levou de mim

Aquele talvez

Rir de tudo no fim

É o ponto de vista dos que ficam, dos que sofrem, dos que sentem a perda daqueles que não aguentaram o fardo de viver. Levanta questões de todos aqueles que não aceitam o suicídio - ou acredita que existe outro caminho melhor.

Pra quê essa pressa de embarcar na jangada que leva para o lado de lá?

Eu já tive amigos que pensaram no suicídio como uma forma de fuga e alguns tentaram. Depois de ouvir a música pela terceira vez eu me lembrei de todos eles e foi inevitável uma pergunta não passar pela minha mente: "Será que eles superaram todas as dores do passado?".

Talvez pudesse resolver (quem vai saber?)

Será que a dor venceu?

Pra quê essa pressa de embarcar Na jangada que leva pro lado de lá?

Eu não soube dos seus atos no dia que cometeram. Eles sentiam vergonha de me contar, de assumir que eram fracos demais, de admitir que chegaram a desacreditar. Mas nunca os achei fracos. Sinceramente fiquei atordoada quando soube. É aquilo: É mais fácil quando não é com você. 

Em todas as situações eu estava longe deles e não soube o que fazer. Nesses dias a fraca fui eu. Em vez de pegar o primeiro ônibus e lhes dar um bom choque de realidade sobre a vida ou o ombro amigo para chorarem e desabafarem, fiquei na minha cama sem dormir e me perguntando sobre como as coisas chegaram naquele ponto. Foi difícil formar opinião sobre o assunto. 

Bagunçou tudo em volta assim, e não volta mais

Nem pra ver

Que era grande demais

E o silêncio, o imenso silêncio que atravessou

Domingo de sol

E eu chovi sem parar

Sempre acreditei que não existe um fardo mais pesado do que o outro. Sempre fui do tipo de pessoa que acredita que cada um carrega a cruz que pode suportar. Não porque Deus lhe dá apenas o peso que você suporta, mas pelo simples fato de que, se não suportasse, não estaria aqui ainda. Se você acredita nessa de que Deus só lhe dá o que você aguenta, está errado. Ele aumentará sempre o peso para que você sempre se supere.

Foi nessa época que cheguei nestas conclusões.

Naqueles anos todos me chamavam de forte por nunca chorar ao falar do meu pai que já havia morrido. Por sempre estar sorrindo e ter bastante energia para gastar. Morar só, me bancar, estudar e ainda ter tempo para minha vida virtual. O que eles nunca souberam é que sempre há um vazio que jamais será preenchido, mas que foi escondido pelas pessoas ao meu redor.

Depois de comparar a minha vida com as dos meus amigos cansados é que consegui arrumar minhas bagunças e partir para a guerra. Mas suicídio não é uma ideia que vem e passa, eles tentam de novo e de novo e de novo... 

E num rompante sem pesar (como aceitar?)
Impôs a decisão
Pra quê essa pressa de embarcar
Na jangada que leva pro lado de lá?
Aceno da margem
Ao longe o barco vai - até mais!
Guarde pra mim um bom lugar

Eles sabem que a vida não é fácil para ninguém. Eles entendem que tem pessoas com mais motivos para chorar do que eles, ainda assim não conseguem suportar. Se sentem mal, cansados, tristes... Tudo é um eterno tédio. Choram sozinhos e nunca pedem ajuda.

Felizmente sou uma pessoa que percebe e pude intervir, mesmo que pouco, na vida deles. Fui uma pessoa que lhes sacudiu, embora hoje nem nos vejamos mais. Mas hoje sigo pensando se estão bem, se estão felizes, se conseguiram superar todos os motivos que lhes levou ter tal pensamento.

Suicídio, para mim, é um assassinato com vários culpados. Como nós, que estamos o tempo todo com eles, não percebemos o abismo que está se formando ao seu redor? Porque não conseguimos fazer mais? Porque que nos conformamos com seus "tudo bem" se está claro que não vai nada  bem? Porque ficamos com medo de saber a verdade.

E somos críticos também. Consideramos que os motivos deles não são bons o suficiente, mas, parando para pensar, quando serão? No nosso ponto de vista, nunca serão.

A gente comete o erro de lhes dar um tapinha nas costas e dizer que tudo vai ficar bem, que sempre estaremos ali para eles, mas no dia seguinte a gente some. Feliz são aqueles que não conseguem sumir. 

Somos culpados por ver que a luta para aquela pessoa está perdida e em vez de lhe darmos cobertura para que seus sangramentos estanquem, ficamos ocupados demais com os nossos próprios sangramentos que, por muitas vezes, é superficial. E quando a Guerra acaba é que nos damos conta dos nossos e dos erros deles.

Sou conhecida por me esquecer de mim e me preocupar com os outros. Dizem que sou bem resolvida comigo mesmo e que sei lidar com todos os meus problemas. A verdade é que não estou pronta para abrir mão da minha guerra e tomo a batalha dos outros como se fosse minha afim de que eles também não estejam prontos.

É como diz o bom e velho Rau: